domingo, 3 de outubro de 2010

Eleição de mentira

Acabo de exercer o meu direito obrigatório de votar. Disseram-me que tudo é discurso, e bem sei que discurso também é política e ideologia. Gostaria de transgredir os limites fantasiosos de direita e esquerda... hoje votei verde.
Tantos mas tantos papeis esparremados pelo chão com rostos e números dos respectivos políticos misturando-se a lama das ruas. Sujas ruas, boicote a lei que proibe a panfletagem no dia da eleição. Lembraram-me que a democracia que tanto nos orgulha aqui no Brasil é um teatro. Ofertam-nos personagens coadjuvantes nessa peça. Os protagonistas respondem aos que pagaram pelos papéis com suas caras bonitas na lama, não a nós.


No caminho com Maiakovski de Eduardo Alves da Costa

(...) Tu sabes, conheces melhor do que eu a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores, matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

(...)

Vamos ao campo e não os vemos ao nosso lado, no plantio.
Mas ao tempo da colheita lá estão
e acabam por nos roubar até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição de falso democrata
e rotulo meus gestos com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso, esconder minha dor diante de meus superiores.
Mas dentro de mim, com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!