Era uma vez
uma menina que não sabia o quanto estava só. Ela caminhava, passos firmes, mas
ninguém ao lado para dar as mãos. E passaram-se anos, e passaram pessoas. Mas
suas pernas não ficavam bambas, seu estômago não parecia conter borboletas
inquietas. Sempre a mesma história de início, meio e fim já marcados,
previstos. Ela havia de contar com o passageiro, aprendeu. Pois descrer era
melhor do que sofrer.
Achava que a incompletude era parte dela, lhe
conferia identidade. E disse ao vento “não preciso de um Outro para ser feliz”.
E não precisava mesmo. Mas até quando?
Um belo dia,
chegou um cavaleiro na cidade. Ele vinha de longe, também sozinho. Curioso que
de todas as moças disponíveis, ele fora fixar seu olhar nos dela. Um acaso,
pensou a menina que não mais acreditava em amor a primeira vista. Ela se via
borralheira, ele a via Cinderela. Então, ele a convidou para o baile. Ela não
fez planos, mas se arrumou com primor para encontrá-lo. Ele lhe deu chocolates
e a fez sorrir. O abraço era caloroso e sincero.
Tudo ia bem,
como havia de ser. Mas ela não iria além, acostumada a calcular até onde
deveria pisar, criava atalhos para evitar os caminhos arriscados. E era
arriscado estar ao lado dele que a fazia se sentir mais forte e mais feliz do
que sabia ser. Percebia-se meio boba, a rir pelos cantos. E os dias se seguiram
com leveza, enquanto os dois trocavam mensagens de apreciação e saudade. Um
relaxante torpor a impedia de fugir.
Mas o
cavaleiro de veras ansiava pelo momento em que a moça lhe entregaria seu
coração. Ele tinha uma espada e derrotou os monstros e os medos que
aprisionavam a menina. E, então, a mais antiga das magias aconteceu: eles se
apaixonaram!
Hoje eles
caminham lado a lado por uma trilha de tijolos dourados. Ele a ensinou a dizer
eu te amo. Ela lhe trouxe paz e aconchego. Entrelaçaram dedos, sorrisos e
futuros.
E viverão
felizes para sempre, enquanto houver um ao outro para amar.