sábado, 2 de maio de 2009

Um ponto de vista

Doces e vulneráveis seres humanos. Fadados, acorrentados a almas, nos mandam vir e assim nascemos. Este é um ponto de vista. O direito de morrer tal qual o direito de nascer há de ser a única certeza que podemos ter a audácia de carregar. Racionalmente é claro, pois sei que há certas certezas que nos são tão vitais que às vezes as confundimos com a lucidez. E todo o ser tem o direito de acreditar em sua certeza, por mais inventada e estapafúrdia que lhe pareça, é todo nosso, um direito declarado.

Resguardo-me então, o direito de não ter certezas. O direito de duvidar, de pôr em xeque, desconfiar. Lanço meu olhar furtivo para a eternidade. Dispenso os fatos, exploro a substância.

Parece-me extremamente injusto o fato de ser eterno. Qualquer que seja, Deus ou Edward (admito, a comparação é esdrúxula), nada deve ser eterno, tudo tem o direito de morrer em sua forma, mudar, se repensar, assim como eu, que da humanidade herdei a mortabilidade. Pequena e mesquinha, invejo o cânone, os símbolos, tradições, certezas, aliás. O papel desagradável de trazer a minha superfície pérfida a demolição de tudo o que é palpável aos meus olhos corrompidos. O papel de perfilar o ciclo vicioso em que me enterro quando escrevo. Só quando escrevo. É como psicografar, e ter a alma perdida em um vale de lágrimas.



Aqui está a dor da destruição e culpo somente a eternidade alheia. Mas o que mais eu poderia querer ser, se para sempre terei a identidade diluída, a felicidade de poder ser banal e até ridícula. Não me tome por cética, não há nada em que eu não acredite categoricamente, e vice-versa. Desconfio do amor eterno, do deus eterno, da dor eterna. Tudo tem o direito de existir, tudo tem o dever de passar. Mutabilidade é vida.

7 comentários:

  1. pois sei que há certas certezas que nos são tão vitais que às vezes as confundimos com a lucidez.

    Thamiris, a sua maturidade como escritora é impressionante. Você é fantástica. foda demais. Mutabilidade é vida. Nossa!!

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  2. Máximo de significado em um mínimo de significante. Dá pra fazerem cronicas e cronicas sobre o q vc resumiu a uma frase!! "pois sei que há certas certezas que nos são tão vitais que às vezes as confundimos com a lucidez." demais!

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  3. Muito bom menina.
    Gostei muito principalmente da parte do direito de morrer.
    E tenho ainda uma teoria: nós morremos muitas vezes durante a vida e renascemos. Muitas coisas nos implicam mudanças tão drásticas que pensamos "parece que falta um pedaço de mim" e realmente falta. Um pedaço morto. Um pedaço não mais seu. Vc não é mais 100% até encontrar um pedaço novo... mudar. Enfim... o desenrolar do meu pensamento aqui provavelmente vai parar em um post do meu blog...
    espero o próximo, menina.
    beijoooosssss

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  4. sabe o q eu acho mais incrível?
    não concordo com quase nda q vc escreveu, mas seu jeito d escrever me fascina e quase me convence... hehehe
    gostei demais! demais MESMO!
    beijoooos

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  5. eu concordo com tudo. E achei este texto o melhor do blog até agora. Perfeito, nao perdi a empolgação em nenhuma frase. parabéns! de vdd mesmo!

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  6. Gosto do seu jeito de escrever. Mesmo que no começo não pareça um assunto interessante, nos prende até o final e deixa com vontade de ler mais quando acaba...

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  7. Também acho que a mudança é a lei básica da vida. E vejo a eternidade de várias maneiras...

    "E todo o ser tem o direito de acreditar em sua certeza", concordo e assino embaixo...

    Amega, vc me envolve nos seus textos.. são penetrantes, lindos!
    dá pra fazer um ensaio com tudo o que eu penso sobre o que vc escreveu... mas me resumo a isto: AMEI!

    bjs

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