O poema teima, esperneia
tá de má vontade.
Se perde nas palavras
me perdem os sentidos e os sentimentos
Finge dor
Finge amor
Finge que nada sente
e só canta pensamentos e ideais
Um poema travesso
embriagado da boemia
sem casa própria e cheio de endereço
Que se escreve pro moço e pra moça
Um poema tonto, o meu amante,
que, como disse Vinícius,
faz "rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento"
Um poema violento,
que só me assalta e mata
ora madura, cansada, envelhecida
ora fruto verde, inconsequente e matreira
O poema me arranca o fôlego
me põe em devaneio,
me desperta à reflexão
E em cada fim de verso, de linha
vou queimando em descompasso
Me deixa solta e leve
no labirinto do minotauro
sem linha e sem espada
_ rendida
Estendida ao Sol,
que toca minha pele e colore
contando sobre o mundo
a história dos séculos
Abandonada, sem norte, sem olhar
me desabriga, o poema
sem as palavras certas
com palavras apenas
Ah! Seja amor ou paixão, tristeza ou nostalgia
só quero um poema que brilhe como estrela
ilume o labirinto
e me transforme em árvore robusta e fértil
de raiz profunda e tenra e tranquila
Mas não este poema.
O poema me joga na corda bamba
me equilibra
Não deixa cair
Não deixa pisar em terra firme
Ele é bonito
e me emociona com a simplicidade
simplicidade de estar viva e ser ainda forte
O poema nasce e logo termina
E é um pouco triste terminar
assim como é difícil nascer
É uma busca envolta em descoberta
Sou eu e o mundo
batido em liquidificador.
"O poeta parte no eterno renovamento.
Mas seu destino é fugir sempre ao homem que ele traz em si."
(Vinícius de Moraes)