Era uma tarde de verão e eu suava e andava apressada, quando na calçada avistei
um cachorro?
um mendigo? um bêbado?
Era um farrapo de gente
E era só um menino.
Um menino estendido num canto
de uma calçada quente da Tijuca
sem papelão,
sem identificação,
dormia.
Era um menino negrode uma calçada quente da Tijuca
sem papelão,
sem identificação,
dormia.
um sono tranquilo,
na agitação urbana.
sonhava?
Me perdi na visão do menino que dormia
Perdi a pressa
Perdi o caminho
Olhava espantada
precisava olhar!
O mundo todo girava,
não olhava.
O mundo não olhava o menino.
O mundo perdia o menino enquanto eu me perdia nele.
Menino inerte.
morto?
Deus! Será que ele está morto?
Não. Mexera os dedos da mão, da mão aberta
a outra sustentava sua cabeça.
Uma aberta. PEDINDO SOCORRO?
A outra sustentando os sonhos sob o Sol quente de fevereiro
Vivo.
e ali jogado.
feito lixo. lixo que se joga fora.
na agitação urbana.
sonhava?
Me perdi na visão do menino que dormia
Perdi a pressa
Perdi o caminho
Olhava espantada
precisava olhar!
O mundo todo girava,
não olhava.
O mundo não olhava o menino.
O mundo perdia o menino enquanto eu me perdia nele.
Menino inerte.
morto?
Deus! Será que ele está morto?
Não. Mexera os dedos da mão, da mão aberta
a outra sustentava sua cabeça.
Uma aberta. PEDINDO SOCORRO?
A outra sustentando os sonhos sob o Sol quente de fevereiro
Vivo.
e ali jogado.
feito lixo. lixo que se joga fora.
lixo) 1 Conjunto de resíduos e sujeiras; 2 Coisa sem valor.
meninos não são lixo.
meninos não são lixo.
de belas feições e roupas gastas
Sujo de rua, de sonhos de rua.
E sonhava o que?
O que sonha alguém que aos 10 anos de idade cai entorpecido na rua?
Há sonhos possíveis para esse menino?
Há sonhos?
Há sonhos possíveis para esse menino?
Há sonhos?
Sonhos?
eu sonho muitas coisas.
em poder pegar esse menino e levantá-lo
tirá-lo daquilo
dar-lhe água comida educação.
mas eu somente passo.
ainda olhando pra ele,
antes de partir
Achei-lhe bonito.
Eu também o perdi!
também o joguei fora!
sei lá,
sou covarde
Eu o deixei lá.
eu sonho muitas coisas.
em poder pegar esse menino e levantá-lo
tirá-lo daquilo
dar-lhe água comida educação.
mas eu somente passo.
ainda olhando pra ele,
antes de partir
Achei-lhe bonito.
eu segui
Fui para a universidade
e ele lá ficou
Sozinho, bonito, rasgado e menino.
feito lixo.
Fui para a universidade
e ele lá ficou
Sozinho, bonito, rasgado e menino.
feito lixo.
Eu também o perdi!
também o joguei fora!
sei lá,
sou covarde
Eu o deixei lá.
E agora sinto culpa por tê-lo gerado
Eu e minha confortável cama sentimos a culpa pela existência da miséria.
Mas não fazemos nada.
Engolimos junto a culpa e a miséria.
Eu e minha confortável cama sentimos a culpa pela existência da miséria.
Mas não fazemos nada.
Engolimos junto a culpa e a miséria.
E depois dormimos temendo que o menino reaja.
Porque um dia ele vai reagir.
Vai passar na tv.
E os sobreviventes que tem travesseiros pedirão sua cabeça!
Porque um dia ele vai reagir.
Vai passar na tv.
E os sobreviventes que tem travesseiros pedirão sua cabeça!
Vão querer matá-lo enquanto ainda é menino
e dorme nas calçadas da Tijuca.
e dorme nas calçadas da Tijuca.
Eu tenho medo.
Não há inocentes.
Caraca, Thamiris..perfeitoooo!!!
ResponderExcluirFiquei até emocionada lendo!!
Muitoo real! Adorei...
Quantas vezes passamos por situações assim e simplesmente passamos, sem fazer nada.
Muito bom..beijos!
Amiga bela, belas palavras, profundo coração. Amiga bela, profundas palavras, belo coração.
ResponderExcluirTata, adorei...
ResponderExcluirLindas palavras amiga...Aqui vc perguntou sobre os poemas de minha autoria só que ,eu só quero publicar os poemas dos autores de amo é um jeito de homenageá-los entendeu amiga...Bjus volte sempre ao nosso cantinho...Bjus DÉIA
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