domingo, 18 de outubro de 2009

Momento particular de dois

[Já sei o que você vão dizer: "ele é tão você" rsrs, E eu vou concordar, ele é o que eu sou, o que eu sinto e senti. É Thamiriano (termo inventado por Rodrigo!) Me aproveitando da ideia de Carlos e seu texto nostálgico, a minha memória: "fatos reais "vestidos" de um pouco de ficção". Espero que aproveitem. kisses;]

É uma pena não podermos estar de mãos dadas caminhando pela praia agora. E você me abraçar, roçar seus lábios na minha bochecha, que logo fica vermelha e dá espaço para a minha boca. Minha boca procura a sua e nossos narizes ficam se tocando ao mesmo tempo em que você segura minha mão com força, entrelaçando os nossos dedos. Acabamos por nos beijar. Como duas crianças bobas, vamos girando a língua, girando e girando. Quem vai parar primeiro? Você pára e segura meu rosto com a palma das mãos. Quando você me olha assim eu fico achando que você me ama.
Agora você largou o meu rosto e está olhando o mar. Eu sei que você adora o mar, mas fico com um pouco de ciúmes. Eu sento na areia e você senta ao meu lado. Pousa as mãos sobre as minhas e, depressa, busco entrelaçar nossos dedos. Dá certo, porque você passa a examinar a minha mão esquerda. Fica rindo porque eu tenho as mãos tão pequenas. Eu rio também. O seu sorriso é branco e grande e lindo, nesse momento eu acho o seu sorriso a coisa mais bela que já vi.
Com a mão disponível você toca meus cabelos, vai fazendo cafuné. Agora você vai chegando mais perto e eu já sei o que vai fazer. Antes de você chegar a minha orelha eu já estou de olhos fechados. É que você me conhece bem, sabe o que eu não resisto e adora me provocar. Eu pouso a cabeça no seu ombro e, ainda de olhos fechados, fico tentando respirar todo o seu perfume. Você continua com o cafuné, desse jeito vou acabar dormindo.
Levanto a cabeça e te lanço um olhar certeiro, você franze a testa, pois está imaginando que eu quero te falar algo. Mas não adianta você dizer “diga”, porque eu não vou. Se eu te explicasse você tampouco entenderia. Eu poderia começar pelo seu sorriso e compará-lo ao Sol, mas eu não consigo olhar muito tempo para o Sol enquanto que o seu sorriso eu poderia fitar por horas a fio. E, é claro, tem o seu cheiro. Único, seu, mas me passa uma sensação que lembra a minha infância, quando minha mãe tirava o bolo de chocolate do forno e me dizia que ainda não podia comê-lo, eu ficava ali respirando fundo até ficar meio extasiada, não aguentar de vontade e, então, roubar um pedaço. E por que eu só sei falar por metáforas?, eu não sei, mas você deveria me beijar logo.
Você me beija, eu te beijo. Nossos lábios colados bailam em transe os movimentos decorados desde a primeira dança. Já não é como antes, agora temos um beijo uno, nosso. E desculpe esse meu jeito extrapolado de ser quando eu te beijo, te olho ou te aperto. Mas a culpa é sua. Eu te aperto muito quando nos beijamos, sabe, porque às vezes penso que você pode desaparecer a qualquer momento. Mas não quero pensar nisso não, melhor é deixar meus dedos fluírem pelos seus cabelos e dar uma mordidinha no seu lábio inferior. Não vou abrir os olhos.
Hum. Ora devo lhe dizer que é mesmo uma pena que esse momento tão particular nunca tenha existido. E mesmo na sua inconsistência de não realidade ou de sonho ou mesmo de um passado distante, eu o vejo se extinguir junto ao sol no horizonte. O que invento e o que trago na memória há tanto tempo se misturam que já não sei de mais nada. As minhas verdades são tão frágeis...



[meu: 01/09/2009]

5 comentários:

  1. Muito bom, Thami.
    Simples e "real". Não no sentido do texto em si, mas no sentido de que essa "cena perfeita" já passou (e já mudou) milhares de vezes na cabeça de todos nós. E o mais triste é que, na maioria das vezes, essa(s) cena(s) nunca sai(em) de lá.

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  2. já havia lido o texto e fico feliz com a lembrança do meu texto, mais um diálogo literário entre nós!
    gosto dessa ideia de memoria e ficção encontrando, penso que no fundo lembramos não só o que queremos lembrar como também (e aí está o grande barato) da maneira que escolhemos lembrar.
    beijins!!
    p.s. tem um pouquinho de uma conversa nossa no último que está no blog.

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  3. Você sabe que amei esse texto. O li mil vezes.
    Vc desabrochou na literatura como uma rosa. Poderosa e frágil. Obrigada por colocar coisa tão doce no mundo...

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  4. WOW!!! Foi o que pensei assim q começei a ler o texto!
    Você disse no início que o texto é mto vc... mas claro q é! e é muito "eu" tbm... é muito "todos"!!
    quem nunca imaginou ter a perfeição na palma da mão?
    Simplesmente perfeito, perfeito em todas as letras!
    Nossa! Nossa! Nossa!!
    perdi as palavras!
    ;*

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  5. Caramba, Thamiris! O que você escreveu é tão verdade, mesmo que seja uma "verdade irreal". Todo mundo, acredito eu, tem (ou teve) memórias como essa, de momentos que nunca existiram na realidade, mas que, lá no fundo, estão tão vivos! E para que esquecê-los?
    Tirar os pés do chão um pouquinho, e criar um mundo só nosso, onde tudo acontece com perfeição (pelo menos, da maneira que julgamos perfeita), é tão bom...
    Beijos.

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