sexta-feira, 21 de maio de 2010

Tragédia e Comédia

Hoje fui a um funeral. Senti a dor e tentei confortar uma amiga. Eu ali, no auge da compaixão e debruçada a olhar para o meu próprio umbigo: e se fosse comigo? Ser humano. O mais primórdio instinto: a busca pela sobrevivência que remete ao egoísmo. Creio que minha compaixão era deveras sincera, mas ao vê-la era um ser humano que eu enxergava, impotente na sua angústia, refletindo a minha impotência por tentar secar suas lágrimas não findáveis. Tão parecido comigo. Dá tanto medo de sentir dor.

"A vida é um grande teatro”, pensando agora nos gregos e nas duas máscaras que caracterizam o gênero: tragédia e comédia. Creio que seja a impossibilidade de riso frouxo que faz das piadas de velório as melhores. Será coincidência? Ou por que naqueles momentos de maior apreensão é que nos assolam risadinhas nervosas? Teorias explicariam que liberamos algum hormônio e blablablá.

Mas, amigos, fiquem sabendo que vocês estão encarregados de promover o primeiro Funeral o Mundo a Festa* de todos os tempos. Eu falo sério, gosto da ideia de um funeral com música da Lady Gaga, queijo no meio para dançar e, é claro, bebida liberada, tipo Cine Ideal mesmo. É, nada de choro nem vela. AAAh e não se esqueçam de espalhar os meus poemas por todo o lado.

Que tal instituirmos uma nova regra social na qual fica acordado que em todo velório o parente ou amigo do defunto deve trazer uma foto em que esteja com ele ou ela, e contar a todos porque aquele foi um momento especial? Ou trazer um recorte, uma música? A graça consiste sempre na criatividade. Resignificaríamos a dor, que, aliás, dor ainda seria.
Choro e riso.
Vivemos sob o signo enigmático das máscaras do teatro grego... e a vida é mesmo uma síntese dialética dos opostos (barroco! oh) (claras influências de Fernando M. de Barros! rs).

3 comentários:

  1. Nossa, e quem não tivesse um momento especial para falar?
    Acho interessante falar para as pessoas as visões que temos delas, mas isso deveria ser feito ainda em vida. Há um filme com a Susan Sarandon que fala de um funeral. Ela faz tipo um stand-up comedy sobre o marido falecido no funeral. Elizabeth town? Sei lá. Legal o post. As piadas de velório. A tragédia e a comédia. As máscaras... =)

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  2. O funeral é sempre um momento incômodo... não há um manual de boas maneiras... é um momento inteiramente não racional, cada um reage de uma maneira, tentando consolar o inconsolável, compreender o imcompreensível. "A única coisa a fazer", diria Bandeira, "é tocar um tango argentino".

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  3. Todos choram porque é mais fácil. Choram de desespero. Porque não sabem lidar com a situação. ADOREI a idéia do O MUNDO A FESTA. Entretanto não conseguiria catalisar o riso para inibir o choro. Não pela dor. Não pelas lágrimas. Mas pelas memórias as quais sucumbem à certeza de não ser repetir.`
    Ótimo texto, as usual!
    Beijos!!

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